BALEIA
JUBARTE
Natália Rodrigues
de Oliveira Pinto1 e Pedro Henrique dos Santos1
1
Discentes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSP - SRQ.
Trabalho desenvolvido na disciplina de Ecologia, sob orientação
da docente Profa. Dra. Glória Cristina Marques Coelho Miyazawa.
A
baleia jubarte (Megaptera novaeangliae)
também conhecida como baleia corcunda, tem a origem de seu nome científico do
grego antigo Megaptera que significa
“grandes asas”, pois quando salta por alguns segundos, desafia as leis da
gravidade ao tentar voar com sua nadadeiras peitorais que podem medir ⅓ de seu
comprimento total, sendo comparado ao de um pássaro. Quem tem o privilégio de
presenciar a jubarte saltando, pode vir a ficar mais impressionado ao descobrir
que ela pesa cerca de 35 a 40 toneladas e mede 16 metros de comprimento em
média.
Técnicas
de identificação
A
população de baleias jubartes fazem parte de um catálogo de animais foto identificados.
O que seria esse registro e qual a importância para tal espécime?
Bem,
as primeiras estimativas do número de baleias jubartes na costa do Brasil
utilizaram a técnica de marcação e recaptura, que consiste em identificar a
nadadeira caudal da baleia e fazer um registro fotográfico dela, porque essa
região equivale a uma digital do animal por possuir um desenho único, logo, a
recaptura é quando o mesmo indivíduo é fotografado novamente.
Figura
2. A
nadadeira caudal da jubarte é equivalente às impressões digitais dos
humanos, possuindo um desenho único
(Foto: Sergey Uryadnikov/Shutterstock).
Quanto
mais jubartes forem registradas, maior as chances de reavistagem, que
possibilita o controle da estimativa populacional e o crescimento ao longo dos
anos. Com as fotos feitas entre 1996 e 2000, a população foi estimada em cerca
de 2 mil jubartes.
Com
o tempo uma técnica de estimativa populacional mais eficaz começou a ser usada,
conhecida como transecção linear, que consiste basicamente em traçar linhas de
amostragem de forma paralela e posicionadas perpendicularmente à costa, ou em
zig-zag, monitorando deslocamentos e permitindo contar o número de indivíduos
por segmento desta linha (WEDEKIN, 2011). Essa identificação pode se dar por
levantamentos aéreos e/ou cruzeiros sistemáticos de embarcação.
Figura
3. Representação
esquemática do esforço de procura dos observadores em relação à aeronave. Área
cinza representa região de maior esforço de observação (Figura: modificada de
Buckland et al., 2001 apud WEDEKIN, 2011).
Figura
4. Linhas
de transecção dos sobrevoos para estimar a densidade de baleias-jubarte nos
anos de: 2001-2004, 2005 e 2008. Abreviações correspondem aos estados da
federação brasileira amostrados em cada período. Linha cinza tracejada
corresponde à isóbata dos 500 metros (Figura: WEDEKIN, 2011).
Em
2001, foram registradas 2.230 baleias no litoral da Bahia e do Espírito Santo
e, a partir daí, houve uma taxa de crescimento significativo. Dados recentes, levantados
em 2019, apontam para cerca de 17 mil jubartes nesta mesma área.
A
recuperação desta espécie é uma vitória para os biólogos envolvidos, pois a
cada ano a estimativa se aproxima do número de baleias jubartes original da
espécie na costa brasileira, que girava em torno de 25 a 30 mil antes do
período de caça comercial que aconteceu, principalmente, na primeira metade do
século passado.
O
vídeo abaixo mostra o censo realizado em 2019, com recuperação no número de
baleias.
Ecologia
populacional e reprodutiva
Cosmopolitas,
as baleias jubartes migram anualmente para regiões tropicais e subtropicais
durante o inverno, vindo das áreas de alta latitude, a procura de águas mais
quentes e rasas para acasalamento e cria dos filhotes. O custo energético da
migração e jejum durante o período reprodutivo é alto, principalmente para fêmeas
lactantes. Com isso o Arquipélago dos Abrolhos, é uma importante área de
reprodução e cria no Brasil, devido à alta frequência de grupos contendo
filhotes (BISI, 2006). Os primeiros meses da vida dos filhotes de baleia
jubarte envolvem um longo período de amamentação e um intenso contato entre mãe
e filhotes, nas áreas de reprodução.
É
considerada uma espécie de vida longa e reprodução lenta. As fêmeas têm uma
gestação de 11 a 12 meses e os filhotes nascem medindo entre 4 e 4,5 metros de
comprimento. Durante o crescimento do filhote, para evitar acidentes, ataques
ou que ele se perca, existe um contato corporal intenso com sua mãe. Esse
contato, se encerra apenas ao final do primeiro período de alimentação e a
chegada do grupo de volta às águas tropicais. O filhote pode permanecer mais um
tempo com sua mãe ou finalmente se juntar a outro grupo. E embora crie
independência, demora entre 4 e 5 migrações para atingir a maturidade sexual com
aproximadamente cinco anos de vida, podendo viver quase 50 anos de idade.
Uma
curiosidade é que as fêmeas são sempre as últimas a migrarem com seus filhotes
pois, precisam esperar que eles aumentem sua camada de gordura e aperfeiçoem
suas musculaturas para aguentar a viagem.
Figura
6.
Drone registra os momentos após o nascimento de um filhote de baleia jubarte (Foto:
Marine Mammal Research).
Dentro
da distribuição conhecida para a espécie na costa brasileira, a abundância
relativa de baleias cresce continuamente a partir do início de julho, atingindo
um pico no final de agosto e começo de setembro. Após o pico, a abundância
decresce até o final de novembro, quando a maioria dos indivíduos já retornou
para a área de alimentação.
O
grupo social da espécie está diretamente ligada ao seu ciclo migratório, sendo
tipicamente pequeno e instável, com exceção dos competitivos ou de
acasalamento, constituídos de uma fêmea que pode ou não estar amamentando o
filhote, acompanhados de pelo menos dois machos, chamado de escorte, sem
parentesco com o filhote. Acredita-se que esses escortes estejam esperando para
acasalar com a fêmea, ou impedir que outros machos se aproximem dela.
Figura
7.
Grupo social de baleia jubarte, ligado ao seu ciclo migratório (Foto: Tomas
Kotouc / Shutterstock.com).
Comportamento
A
baleia jubarte é conhecida mundialmente por seus grandes saltos. O motivo desse
salto, ainda é estudado, existindo a hipótese de que seja uma forma de
comunicação com seu grupo ou, um macho tentando impressionar a fêmea. Outra
hipótese é que seja uma forma encontrada por esse animal para se livrar de
parasitas e cracas que ficam aderidas em seu corpo.
Figura
8. Cracas
fixadas nas costas de uma baleia (Fonte: Site Quero ver baleia - Amigos da Jubarte).
Em
relação ao seu comportamento, a baleia Jubarte pode ser considerada um animal
muito comunicativo. Por exemplo, nas áreas de reprodução, os machos produzem
extensas e complexas vocalizações, que pode tanto atuar como um display sexual
para atrair as fêmeas como para afugentar outros machos de uma determinada
área.
O
seu método de respiração consiste em imergir na superfície para que ocorram as
trocas gasosas em seus pulmões. Como todo cetáceo, ela ejeta através de seu
orifício respiratório um esguicho d’água, onde na verdade está liberando ar
quente que ao entrar em contato com o exterior, sofre condensação. Após esse
processo, ao mergulhar, um tampão fecha este orifício, impossibilitando a
entrada de água. Possui também, a capacidade de permanecer submersa por um
período de 21 minutos, devido ao grande tamanho de seus pulmões e,
consequentemente, a grande quantidade de oxigênio que absorve. Usa como um
outro método, a diminuição da frequência cardíaca com a finalidade de reduzir o
fluxo de sangue, fazendo o oxigênio circular lentamente.
Figura
9. Anatomia
da baleia Jubarte (Foto: Portal Toda Matéria).
Alimentação
Essa
espécie possui um período de alimentação durante o verão para acumular energia,
na forma de gordura. Esta reserva energética permite que suportem um jejum de
alguns meses, durante a estação reprodutiva. Por não possuir dentes, a baleia
jubarte tem como principal fonte e base alimentar os krills (nome dado a um
conjunto de animais invertebrados semelhantes ao camarão). A migração se ajusta
à disponibilidade sazonal do krill, que não existe em águas tropicais. Pequenos
cardumes de peixe podem entrar em sua dieta.
Figura
10. fotografia
ampliada de krills (Foto: David Tipling).
Em
grupo, as baleias possuem uma técnica de caça única conhecida como “rede de
bolhas”, onde uma delas mergulha em círculos soltando bolhas, formando uma
coluna e aprisionando os krills. Logo em seguida, outra baleia nada em direção
a superfície com a boca aberta a fim de engolir a maior quantidade de presas
que conseguir. Neste processo existe um revezamento para que todas se
alimentem.
Figura
11. Esquema
representando técnica de caça em grupo conhecida como "rede de
bolhas". (Portal Toda Matéria)
O vídeo abaixo mostra em detalhes este processo.
A
alimentação do filhote consiste na amamentação de até 400 litros de leite por
dia. Neste processo a mãe se posiciona verticalmente com a cabeça voltada para o
fundo do mar e a cauda fora da água. Acredita-se que possuem esse costume para
que as glândulas mamárias fiquem próximas da superfície, facilitando o processo
de respiração do filhote. Ao completar 10 meses, esse filhote começa a desmamar
e, por um tempo, intercala o leite materno e a ingestão de krills. Ao final do
período de alimentação, as baleias migram de volta para as águas quentes, onde
permanecem sem comer por meses até o próximo verão do hemisfério sul, utilizando
a espessa camada de gordura para sobreviver.
Referências
BALEIAS: por que protege-las. Agência Ambiental
Pick- upau. Disponível em: <https://www.pick-upau.org.br/mundo/baleias/baleias.htm>.
Acesso em: 31 maio. 2020
BISI, T. L. Comportamento
de filhotes de baleia jubarte, Megaptera
novaeangliae, na região ao redor do arquipélago dos abrolhos, Bahia (Brasil).
2006. 90f. Dissertação (Mestrado em Ciências, Área de Ecologia) – Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006.
DIANA, J. Baleia Jubarte. Site Toda Matéria. 2018. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/baleia-jubarte/>.
Acesso em: 31 maio. 2020.
PORTILHO, G. Por que as baleias ejetam água? Revista
Mundo Estranho. São Paulo, 04 de jul. de 2018. Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-as-baleias-ejetam-agua/amp/>.
Acesso em: 31 maio. 2020.
PROJETO BALEIA JUBARTE. Disponível em:
. Acesso em: 31
maio. 2020
QUERO ver baleia. Amigos
da Jubarte. A craca e as baleias Jubarte. Disponível em:
https://www.queroverbaleia.com/single-post/A-Craca-e-as-Baleias-jubarte. Acesso
em: 31 maio. 2020.
WEDEKIN, L. L. Ecologia
populacional da baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871)
em sua área reprodutiva na costa do Brasil, Oceano Atlântico Sul. 2011.
144f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas – Zoologia) – Universidade Federal
do Paraná, Curitiba, 2011.
Show
ResponderExcluirInteressante!!! as caudas destas baleias são como nossas impressões digitais
ResponderExcluirUm filhote mama 400 litros de leite por dia, não imaginava
ResponderExcluirGente, eu achei muito incrível o trabalho por completo! Contém informações muito claras e interessantes, eu amei! Chamou minha atenção a parte da recuperação delas, pois hoje em dia, infelizmente, é cada vez mais difícil vermos populações de espécies crescendo. Que tenhamos mais conquistas como essa!!!!!
ResponderExcluirLarissa Caetano Pinto Amb1