sexta-feira, 5 de junho de 2020

Baleia Jubarte


BALEIA JUBARTE

Natália Rodrigues de Oliveira Pinto1 e Pedro Henrique dos Santos1

1 Discentes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSP - SRQ. Trabalho desenvolvido na disciplina de Ecologia, sob orientação da docente Profa. Dra. Glória Cristina Marques Coelho Miyazawa.

A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) também conhecida como baleia corcunda, tem a origem de seu nome científico do grego antigo Megaptera que significa “grandes asas”, pois quando salta por alguns segundos, desafia as leis da gravidade ao tentar voar com sua nadadeiras peitorais que podem medir ⅓ de seu comprimento total, sendo comparado ao de um pássaro. Quem tem o privilégio de presenciar a jubarte saltando, pode vir a ficar mais impressionado ao descobrir que ela pesa cerca de 35 a 40 toneladas e mede 16 metros de comprimento em média.

 Figura 1. No momento do pulo, as enormes nadadeiras peitorais das baleias se comparam às asas de um pássaro (Foto: Reprodução/Douglas Craft).

Técnicas de identificação

A população de baleias jubartes fazem parte de um catálogo de animais foto identificados. O que seria esse registro e qual a importância para tal espécime?

Bem, as primeiras estimativas do número de baleias jubartes na costa do Brasil utilizaram a técnica de marcação e recaptura, que consiste em identificar a nadadeira caudal da baleia e fazer um registro fotográfico dela, porque essa região equivale a uma digital do animal por possuir um desenho único, logo, a recaptura é quando o mesmo indivíduo é fotografado novamente.

Figura 2. A nadadeira caudal da jubarte é equivalente às impressões digitais dos humanos,  possuindo um desenho único (Foto: Sergey Uryadnikov/Shutterstock).

Quanto mais jubartes forem registradas, maior as chances de reavistagem, que possibilita o controle da estimativa populacional e o crescimento ao longo dos anos. Com as fotos feitas entre 1996 e 2000, a população foi estimada em cerca de 2 mil jubartes.

Com o tempo uma técnica de estimativa populacional mais eficaz começou a ser usada, conhecida como transecção linear, que consiste basicamente em traçar linhas de amostragem de forma paralela e posicionadas perpendicularmente à costa, ou em zig-zag, monitorando deslocamentos e permitindo contar o número de indivíduos por segmento desta linha (WEDEKIN, 2011). Essa identificação pode se dar por levantamentos aéreos e/ou cruzeiros sistemáticos de embarcação.

Figura 3. Representação esquemática do esforço de procura dos observadores em relação à aeronave. Área cinza representa região de maior esforço de observação (Figura: modificada de Buckland et al., 2001 apud WEDEKIN, 2011).

Figura 4. Linhas de transecção dos sobrevoos para estimar a densidade de baleias-jubarte nos anos de: 2001-2004, 2005 e 2008. Abreviações correspondem aos estados da federação brasileira amostrados em cada período. Linha cinza tracejada corresponde à isóbata dos 500 metros (Figura: WEDEKIN, 2011).

Em 2001, foram registradas 2.230 baleias no litoral da Bahia e do Espírito Santo e, a partir daí, houve uma taxa de crescimento significativo. Dados recentes, levantados em 2019, apontam para cerca de 17 mil jubartes nesta mesma área.

A recuperação desta espécie é uma vitória para os biólogos envolvidos, pois a cada ano a estimativa se aproxima do número de baleias jubartes original da espécie na costa brasileira, que girava em torno de 25 a 30 mil antes do período de caça comercial que aconteceu, principalmente, na primeira metade do século passado.

O vídeo abaixo mostra o censo realizado em 2019, com recuperação no número de baleias.



Ecologia populacional e reprodutiva

Cosmopolitas, as baleias jubartes migram anualmente para regiões tropicais e subtropicais durante o inverno, vindo das áreas de alta latitude, a procura de águas mais quentes e rasas para acasalamento e cria dos filhotes. O custo energético da migração e jejum durante o período reprodutivo é alto, principalmente para fêmeas lactantes. Com isso o Arquipélago dos Abrolhos, é uma importante área de reprodução e cria no Brasil, devido à alta frequência de grupos contendo filhotes (BISI, 2006). Os primeiros meses da vida dos filhotes de baleia jubarte envolvem um longo período de amamentação e um intenso contato entre mãe e filhotes, nas áreas de reprodução.

 Figura 5. As rotas de migração (Foto: Agência Ambiental Pick-upau).

É considerada uma espécie de vida longa e reprodução lenta. As fêmeas têm uma gestação de 11 a 12 meses e os filhotes nascem medindo entre 4 e 4,5 metros de comprimento. Durante o crescimento do filhote, para evitar acidentes, ataques ou que ele se perca, existe um contato corporal intenso com sua mãe. Esse contato, se encerra apenas ao final do primeiro período de alimentação e a chegada do grupo de volta às águas tropicais. O filhote pode permanecer mais um tempo com sua mãe ou finalmente se juntar a outro grupo. E embora crie independência, demora entre 4 e 5 migrações para atingir a maturidade sexual com aproximadamente cinco anos de vida, podendo viver quase 50 anos de idade.

Uma curiosidade é que as fêmeas são sempre as últimas a migrarem com seus filhotes pois, precisam esperar que eles aumentem sua camada de gordura e aperfeiçoem suas musculaturas para aguentar a viagem.

Figura 6. Drone registra os momentos após o nascimento de um filhote de baleia jubarte (Foto: Marine Mammal Research).

Dentro da distribuição conhecida para a espécie na costa brasileira, a abundância relativa de baleias cresce continuamente a partir do início de julho, atingindo um pico no final de agosto e começo de setembro. Após o pico, a abundância decresce até o final de novembro, quando a maioria dos indivíduos já retornou para a área de alimentação.

O grupo social da espécie está diretamente ligada ao seu ciclo migratório, sendo tipicamente pequeno e instável, com exceção dos competitivos ou de acasalamento, constituídos de uma fêmea que pode ou não estar amamentando o filhote, acompanhados de pelo menos dois machos, chamado de escorte, sem parentesco com o filhote. Acredita-se que esses escortes estejam esperando para acasalar com a fêmea, ou impedir que outros machos se aproximem dela.

Figura 7. Grupo social de baleia jubarte, ligado ao seu ciclo migratório (Foto: Tomas Kotouc / Shutterstock.com).

Comportamento
A baleia jubarte é conhecida mundialmente por seus grandes saltos. O motivo desse salto, ainda é estudado, existindo a hipótese de que seja uma forma de comunicação com seu grupo ou, um macho tentando impressionar a fêmea. Outra hipótese é que seja uma forma encontrada por esse animal para se livrar de parasitas e cracas que ficam aderidas em seu corpo.
Figura 8. Cracas fixadas nas costas de uma baleia (Fonte: Site Quero ver baleia - Amigos da Jubarte).
Em relação ao seu comportamento, a baleia Jubarte pode ser considerada um animal muito comunicativo. Por exemplo, nas áreas de reprodução, os machos produzem extensas e complexas vocalizações, que pode tanto atuar como um display sexual para atrair as fêmeas como para afugentar outros machos de uma determinada área.
O seu método de respiração consiste em imergir na superfície para que ocorram as trocas gasosas em seus pulmões. Como todo cetáceo, ela ejeta através de seu orifício respiratório um esguicho d’água, onde na verdade está liberando ar quente que ao entrar em contato com o exterior, sofre condensação. Após esse processo, ao mergulhar, um tampão fecha este orifício, impossibilitando a entrada de água. Possui também, a capacidade de permanecer submersa por um período de 21 minutos, devido ao grande tamanho de seus pulmões e, consequentemente, a grande quantidade de oxigênio que absorve. Usa como um outro método, a diminuição da frequência cardíaca com a finalidade de reduzir o fluxo de sangue, fazendo o oxigênio circular lentamente.
Figura 9. Anatomia da baleia Jubarte (Foto: Portal Toda Matéria).

Alimentação
Essa espécie possui um período de alimentação durante o verão para acumular energia, na forma de gordura. Esta reserva energética permite que suportem um jejum de alguns meses, durante a estação reprodutiva. Por não possuir dentes, a baleia jubarte tem como principal fonte e base alimentar os krills (nome dado a um conjunto de animais invertebrados semelhantes ao camarão). A migração se ajusta à disponibilidade sazonal do krill, que não existe em águas tropicais. Pequenos cardumes de peixe podem entrar em sua dieta.
Figura 10. fotografia ampliada de krills (Foto: David Tipling).

Em grupo, as baleias possuem uma técnica de caça única conhecida como “rede de bolhas”, onde uma delas mergulha em círculos soltando bolhas, formando uma coluna e aprisionando os krills. Logo em seguida, outra baleia nada em direção a superfície com a boca aberta a fim de engolir a maior quantidade de presas que conseguir. Neste processo existe um revezamento para que todas se alimentem.
Figura 11. Esquema representando técnica de caça em grupo conhecida como "rede de bolhas". (Portal Toda Matéria)

            O vídeo abaixo mostra em detalhes este processo.


A alimentação do filhote consiste na amamentação de até 400 litros de leite por dia. Neste processo a mãe se posiciona verticalmente com a cabeça voltada para o fundo do mar e a cauda fora da água. Acredita-se que possuem esse costume para que as glândulas mamárias fiquem próximas da superfície, facilitando o processo de respiração do filhote. Ao completar 10 meses, esse filhote começa a desmamar e, por um tempo, intercala o leite materno e a ingestão de krills. Ao final do período de alimentação, as baleias migram de volta para as águas quentes, onde permanecem sem comer por meses até o próximo verão do hemisfério sul, utilizando a espessa camada de gordura para sobreviver.

Referências

BALEIAS: por que protege-las. Agência Ambiental Pick- upau. Disponível em: <https://www.pick-upau.org.br/mundo/baleias/baleias.htm>. Acesso em: 31 maio. 2020

BISI, T. L. Comportamento de filhotes de baleia jubarte, Megaptera novaeangliae, na região ao redor do arquipélago dos abrolhos, Bahia (Brasil). 2006. 90f. Dissertação (Mestrado em Ciências, Área de Ecologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

DIANA, J. Baleia Jubarte. Site Toda Matéria.  2018. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/baleia-jubarte/>. Acesso em: 31 maio. 2020.

PORTILHO, G. Por que as baleias ejetam água? Revista Mundo Estranho. São Paulo, 04 de jul. de 2018. Disponível em: <https://www.google.com/amp/s/super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-as-baleias-ejetam-agua/amp/>. Acesso em: 31 maio. 2020.

PROJETO BALEIA JUBARTE. Disponível em: . Acesso em: 31 maio. 2020

QUERO ver baleia. Amigos da Jubarte. A craca e as baleias Jubarte. Disponível em: https://www.queroverbaleia.com/single-post/A-Craca-e-as-Baleias-jubarte. Acesso em: 31 maio. 2020.

WEDEKIN, L. L. Ecologia populacional da baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em sua área reprodutiva na costa do Brasil, Oceano Atlântico Sul. 2011. 144f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas – Zoologia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011.

4 comentários:

  1. Interessante!!! as caudas destas baleias são como nossas impressões digitais

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  2. Um filhote mama 400 litros de leite por dia, não imaginava

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  3. Gente, eu achei muito incrível o trabalho por completo! Contém informações muito claras e interessantes, eu amei! Chamou minha atenção a parte da recuperação delas, pois hoje em dia, infelizmente, é cada vez mais difícil vermos populações de espécies crescendo. Que tenhamos mais conquistas como essa!!!!!

    Larissa Caetano Pinto Amb1

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