quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Programa para a Conservação de Morcegos no Brasil

Programa para a Conservação de Morcegos no Brasil

Daniel Batista1

      Eduarda Rubbo da Silva1

Erick Yuji Mawarida1

     Samuel Modesto Nunes1
        Larissa Oliveira Ramalho1

1 Discentes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFSP - SRQ. Trabalho desenvolvido na disciplina de Fauna, Flora e Ambiente, sob orientação da docente Profa. Dra. Glória Cristina Marques Coelho Miyazawa.


Detalhes do programa

    O “programa para a conservação dos morcegos brasileiros” foi criado em 1995, em Santa Teresa – ES, após um workshop, realizado com o apoio do Museu de Biologia Mello Leitão, com especialistas em morcegos brasileiros.

    Biodiversitas que é uma ONG dedicada à conservação da biodiversidade brasileira, possui parceria com o PCMBR (Programa para a conservação de morcegos no Brasil). A fundação “Biodiversitas”, entre outras coisas, coordena – junto da “Conservação internacional” - a criação do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

    A fundação Biodiversitas possuí um programa de parcerias corporativas para a manutenção dos projetos, do qual empresas como a Vale e o Instituto Brasileiro de Mineração participam. Os valores doados variam entre 10 e 60 mil reais anuais. Além disso, a Biodiversitas é parceira de outras diversas ONGs nacionais e internacionais.

    Em 2007, o PCMBr se juntou a outros programas voltados à preservação dos morcegos do México, Costa Rica, Guatemala e Bolívia. Juntos, formaram a RELCOM (Rede Latino-americana e Caribenha para a Conservação de Morcegos). Hoje, o projeto conta com membros de mais de 20 países, tem mais de 800 integrantes.

 

Figura 1. Logotipo do PCMBrasil

 

Conservação e preservação dos morcegos

    A área de conservação tem se voltado para a gestão de Áreas Importantes para a Conservação de Morcegos (AICOMs) e Locais Importantes para a Conservação de Morcegos (SICOMs) que são as principais estratégias regionais da RELCOM. As directrizes foram concebidas para o seu reconhecimento e os processos de aprovação, avaliação e nomeação de AICOMs e SICOMs, que resultou na apresentação e tratamento de um total de 80 locais (64 AICOMs, 16 SICOMs), pertencentes a 15 programas nacionais da conservação de morcegos.

    Em agosto de 2007, grupos dedicados à conservação de morcegos no México, Guatemala, Brasil, Costa Rica e Bolívia assinaram um acordo para trabalhar em uma rede que permite objetivos comuns de longo prazo para a conservação de morcegos em toda a região da América Latina e Caribe, para que os esforços que hoje se realizam não sejam isolados. Além desse tratado houve nos dias 10 a 15 dezembro de 2009, em uma reunião na Reserva Biológica de Tirimbina, Sarapiqui, Costa Rica, 25 especialistas em morcegos de 11 países membros da Rede Latino-Americana para a Conservação dos Morcegos (Relcom) se reuniram para elaborar a estratégia para a Conservação dos Morcegos latino-americanos, assim configurando a Declaração de Sarapiqui “CONCLAMAMOS OS GOVERNOS DA AMÉRICA LATINA A TOMAREM MEDIDAS URGENTES PARA DETER A PERDA E REDUÇÃO DAS POPULAÇÕES DE MORGEGOS DE TODA A REGIÃO, POR MEIO DA PROTEÇÃO DOS ABRIGOS E DOS HÁBITATS, EM RESOLVER ADEQUADAMENTE O CONFLITO ORIGINADO POR MORCEGOS HEMATÓFAGOS E ASSEGURAR A UTILIZAÇÃO RESPONSÁVEL DE PESTICIDAS”.

Figura 2. Logotipo da RELCOM

Características dos morcegos

    Morcego é o nome popular para os indivíduos da ordem dos Quirópteros. Esses animais são mamíferos, mas são os únicos da classe que possuem a habilidade plena de voo. Constituem a 2ª maior população entre os mamíferos, cerca de 20%, divididos em aproximadamente 1.411 espécies.

    Possuem a maior variedade de dietas entre ordens animais, que pode-se classificar em três grupos: Animalívoros, Fitófagos e Onívoros. Poucas espécies se alimentam exclusivamente de uma dessas subdivisões. Um exemplo destas são as únicas 3 espécies de morcegos-vampiros, que podem morrer após uma única noite sem sangue.

    O Brasil faz parte de uma região biogeográfica chamada neotropical, essa região é extremamente relevante ao tratarmos de quirópteros, pois algumas famílias só ocorrem aqui, como a Furipteridae e Moormopidae. Assim sendo, é valido afirmar que a conservação da fauna quiróptera as faz necessária para a manutenção de uma série de ecossistemas nos quais os morcegos são, de alguma forma, peças fundamentais.


Figura 3. Morcego com sua dieta fitófaga


A importância dos morcegos

    Os quirópteros carregam um estigma de sujos, perigosos e demoníacos enraizado em muitas sociedades, entretanto, eles são incrivelmente úteis para os seres humanos e diversos outros e sua perda ocasionaria em desastres irreversíveis.

    Os quirópteros ainda são responsáveis pela distribuição de sementes ao longo do voo e polinização, que fica grudado em seus pelos ao se alimentarem de néctar. Ao se alimentar de frutas as sementes passam pelo trato digestivo e são dispensadas nas fezes, por vezes até “ativando” sua germinação e garantindo os nutrientes necessários ao desenvolvimento de frutas como o maracujá-da-restinga e o pequi. Por fim, os únicos responsáveis pela germinação da agave-azul (ingrediente-chave na produção de tequila) são os indivíduos da espécie Leptonycteris nivalis.

    Além disso, morcegos insetívoros são responsáveis pelo consumo de toneladas de insetos por noite; esses que capazes de transmitir doenças de gado e até moscas que são maléficas ao homem. Um estudo realizado em vinícolas do Chile e publicada na Elsevier B.V. realizou que a utilização de morcegos comedores de insetos se provou 7% mais eficiente do que a aplicação de pesticidas, além da fertilização natural e a economia de US$188-$248 por hectare ao ano.


Figura 4. Morcego coberto de pólen colaborando na polinização

 

Impactos do programa

    Como a missão do programa é desmistificar, por meio de dados científicos, as falsas crenças que fazem com que esses animais sejam associados ao mal, e vistos sempre como prejudiciais ao ser humano. Seu impacto é direto na sociedade, já que através dele conscientiza a população sobre os morcegos e sua importância.

    Informações como a ajuda dos morcegos na polinização das plantas chegam até a população através da divulgação científica feita por esse e outros programas relacionados aos morcegos, assim conseguem conscientizar a população e mudar o pensamento que esses animais são maléficos. O programa ainda ajuda diretamente no controle da população desses indivíduos, já que nas publicações do programa em suas redes sociais é visto que cuidam de indivíduos necessitados.

    Recentemente os morcegos começaram a ser mortos por medo do COVID-19 no Peru, pois os moradores acreditariam que eles seriam responsáveis pela transmissão do vírus. Percebe-se como a falta de um programa de conservação de morcegos e o acesso à informação trazem malefícios para os animais, por isso além desses programas ganharem mais reconhecimento, deve-se democratizar melhor o acesso ás informações para a população;

Quirópteros ameaçados de extinção no brasil

    Os morcegos são o segundo grupo de mamíferos com maior número de espécies, e ainda assim, correm risco de extinção. Em partes, esse problema se dá ao fato de que a maioria das pessoas tem uma visão equivocada, misticismo e pouco conhecimento sobre os benefícios dessa espécie, e acabam os matando.

    No Brasil, há 177 espécies de morcego, cinco constavam na atual lista de espécies ameaçadas, na categoria vulnerável (VU):

• Morceguinho-do-cerrado (Lonchophilla dekeyseri)

• Morcego (Lonchophilla bokermanni)

• Morcego-de-linha-branca (Platyrrhinus recifinus)

• Morcego (Lasiurus ebenus)

• Morcego-borboleta-avermelhado (Myotis ruber)




Figura 5. Espécies de morcegos ameaçados na categoria vulnerável

Referências

BELTRÁN, C. A.; et. al. Quantifying ecological and economic value of pest control services provided by bats in a vineyard landscape of central chile. Chile: Elsevier B.V., 2020.

ARNONI, Ives Simões; PASSOS, Fernando C. XXVII Congresso Brasileiro de Espeleologia. Levantamento da fauna de morcegos (chiroptera, mammalia) do parque natural municipal das grutas de Botuverá, Botuverá / SC. Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), 2003. Januária, MG.

BERNARD, Enrico. Bicho #040: morcegos (Ordem Chiroptera).  Desabraçando arvores, 2020. Disponível em: <https://open.spotify.com/episode/3EVEbgdoC5c6EXEXuDvHdE?si=j4D7DR3DSvOkgWupvrYUTg >.

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IUCN. International Union for Conservation of Nature. s.d.  Disponível em: < https://www.iucn.org/ >.  Acesso em: 31 de Out. de 2020.

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